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Você acredita em extraterrestres?

Você acredita em extraterrestres?

Neste mundo inundado de notícias falsas, parece que há cada vez mais pessoas a acreditar que estamos a ser visitados por extraterrestres.

A empresa Gallup, que monitoriza as opiniões e as crenças dos norte-americanos, informou que, em escassos dois anos, houve um grande aumento do número de pessoas que acreditam que alguns dos chamados Objetos Voadores Não Identificados – OVNI (vulgo “discos voadores”) são naves de extraterrestres: eram 33% em 2019 e passaram a ser 41% em 2021. Do outro lado, 60% acreditavam em 1919 que todos os OVNI eram explicados por atividade humana ou por fenómenos naturais, uma percentagem que caiu para 50% em 2021 (os outros não têm opinião). É ainda uma minoria de crentes em visitas de extraterrestres, mas uma minoria crescente.

Quer dizer, não tardará muito até haver uma maioria de pessoas que acreditam não só em vida extraterrestres, como em vida extraterrestre inteligente, como, mais ainda, em vida extraterrestre inteligente que nos vem visitar. São coisas diferentes, como vamos ver.

Se me perguntarem, como por vezes fazem, se acredito em via extraterrestre, eu respondo que sim.

Até agora as únicas manifestações de vida estão presentes no nosso planeta: e, acrescente-se, numa espantosa variedade (continuamos a descobrir novas espécies e a nossa não é mais do que um minúsculo ramo da grande “árvore da vida”). Mas o Universo é muito, muito grande, provavelmente mesmo infinito. Sabemos que há estrelas, agrupadas em galáxias, por todo o lado.

A nossa estrela não passa de uma das centenas de milhares de milhões de estrelas da nossa Galáxia, a Via Láctea. E há inúmeras outras galáxias, algumas deles bem maiores, como Andrómeda. Sabemos também que praticamente todas as estrelas têm planetas a circular à sua volta São os chamados exoplanetas, dos quais conhecemos hoje mais de 5000 (o primeiro só foi descoberto em 1995). Alguns poderão ser habitáveis, no sentido em que não são nem muito frios nem muito quentes, existindo por isso condições mínimas para haver vida. Já encontrámos planetas semelhantes ao nosso, considerando a distância à estrela e o seu tamanho. Nas estrelas mais próxima, o sistema triplo Alfa do Centauro (uma das quais se chama Próxima), situado a apenas quatro anos-luz de nós, encontrámos um planeta na zona habitável de uma das estrelas. E há outros, mais longe. Procuramos conhecer a composição da atmosfera dos exoplanetas: a detecção de água seria uma notícia animadora. Naturalmente que os nossos instrumentos alcançam melhor as estrelas nossas vizinhas na Via Láctea, mas existem indícios de haver planetas noutras galáxias.

Há uma disciplina interdisciplinar em franco desenvolvimento – a exobiologia -, que procura não só sinais de vida fora da Terra, seja no nosso sistema solar (em Marte ou em luas de Júpiter ou Saturno) seja noutros sistemas solares, enquanto investiga a vida na Terra em condições extremas. Missões como a do Telescópio Espacial James Webb estão a alargar o nosso conhecimento do Universo.

Considerando que existem moléculas orgânicas no espaço, eu não ficaria admirado se qualquer dia encontrássemos vida fora da Terra. Gostaria de saber se essa vida é baseada no carbono e no mesmo código genético, guardado no ADN, que na Terra, isto é, se a vida é um fenómeno paroquial ou universal. Isso ajudaria na magna questão de saber como surgiu a vida na Terra: terá nascido aqui espontaneamente ou terá vindo de um outro lado, transportada por exemplo por um cometa?

Mas a questão de vida inteligente é mais complicada.

Dispomos de radiotelescópios que nos permitem receber sinais vindos das profundezas do espaço. Projectos como o do Search for Extraterrestrial Intelligence – SETI não são hoje apenas ficção científica, mas também ciência. O certo é que até, agora, apesar de todas as buscas, não foram detectados quaisquer sinais de rádio com hipotética origem artificial. Não conhecemos a probabilidade de aparecer vida num certo planeta, mas mesmo que essa probabilidade se concretize num sítio, há que esperar imenso tempo até que eventualmente haja cérebros capazes de consciência. A vida inteligente demora muito tempo a formar-se (na Terra há vida 4,5 mil milhões de anos, mas o Homo Sapiens, embora tenha ascendentes em hominídeos, só surgiu a Terra há cerca de 200 000 anos) e demora mais ainda a construir tecnologias avançadas de comunicação.

Nós humanos só desde há cerca de cem anos é que sabemos emitir sinais de rádio, o que significa que os primeiros sinais de rádio humanos só vão a cerca de cem anos-luz. Passaram pela Próxima, mas estão ainda, à escala das distâncias cósmicas, muito próximos.

O astrobiólogo norte-americano recentemente falecido Frank Drake propôs uma equação, à qual foi dado o seu nome, para quantificar o número de civilizações na Via Láctea com as quais as comunicações serão possíveis. O número obtém-se de um produto de probabilidades, que são insuficientemente conhecidas: o valor estimado do número de civilizações varia entre 20 e 50 000 000. Só na nossa galáxia há, portanto, hipóteses de haver vida inteligente, mas a incerteza é muito grande.

E depois, para a questão dos OVNI, há um grande problema: não chega haver seres inteligentes, é preciso haver uma civilização muito avançada que consiga fabricar e pilotar naves que nos venham visitar. Nós já enviámos duas sondas não tripuladas, as Voyager I e II, para fora do sistema solar. Essas sondas levam discos com fotografias, informações científicas e mensagens da Terra, mostrando que somos inteligentes. Como é que eventuais civilizações distantes, que nunca conseguiram comunicar connosco, conseguem aparecer na Terra, depois de percorrerem milhares e milhares de anos-luz, a uma velocidade que não pode ultrapassar a da luz? Parece impossível!

Não há provas cabais que os OVNI sem explicação até hoje tenham uma origem extraterrestre.

O facto de menos de 5% dos OVNI não terem uma explicação conhecida não significa que essa fracção tenha uma origem extraterrestre. Podem ser artefactos humanos lançados secretamente ou podem ser simples fenómenos naturais que não reconhecemos imediatamente. Podem ainda ser, e essa hipótese explicará um bom número de casos, que o nosso cérebro nos esteja a enganar: esse órgão nem sempre vê e interpreta bem a realidade á sua volta. As ilusões cerebrais existem mesmo. O famoso físico norte-americano Richard Feynman escreveu no seu livro “O que é uma Lei Física”:

“Há alguns anos tive uma conversa com um leigo sobre discos voadores – a minha condição de cientista faz com que saiba tudo sobre discos voadores! Disse-lhe: ‘Penso que não existem discos voadores’. E o meu antagonista respondeu: ‘Acha impossível a existência de discos voadores? Consegue provar que é impossível?’ ‘Não!’ disse-lhe, ‘não consigo provar que é impossível. É apenas bastante improvável.’ Então ele replicou: ‘Isso é muito anticientífico. Se não consegue provar que é impossível, por que me diz que é improvável?’ Mas essa é que é a maneira de se ser científico. Só é científico afirmar o que é mais e o que é menos provável e não estar sempre a provar o que é possível e impossível. Para concretizar melhor o meu pensamento, poder-lhe-ia ter dito: ‘Repare, a partir do meu conhecimento do mundo à minha volta, penso que é muito mais provável que os relatos de discos voadores sejam o resultado de características irracionais própria da inteligência terrestre do que de esforços racionais desconhecidos de inteligências extraterrestres.’ É apenas mais provável e é tudo. Trata-se de uma boa previsão. Tentamos sempre avançar com a previsão mais provável, conservando no subconsciente o facto de que, se não resultar, temos de discutir as outras possibilidades.”

É preciso ser céptico. E o astrofísico e divulgador de ciência norte-americano Carl Sagan, chamou a atenção, na sua obra Um Mundo Infestado de Demónios, para a nossa necessidade de cepticismo:

“De um modo geral, os cidadãos da nossa sociedade não dispõem dos instrumentos de cepticismo. Estes raramente são referidos na escola, mesmo quando se apresenta a ciência, o seu praticante mais ardente, e apesar de o cepticismo brotar espontaneamente das sucessivas desilusões do quotidiano. A nossa política, a nossa economia, a nossa publicidade e as nossas religiões estão impregnadas de credulidade. Um cético poderia sugerir que todos os que têm alguma coisa para vender, os que querem influenciar a opinião pública e os que estão no poder têm interesse em desencorajar o cepticismo.”

Em resumo, acredito que haja vida fora da Terra. Apesar da probabilidade ser incerta, acredito ainda que poderá haver, algures no vasto espaço, vida inteligente, mas já não acredito que haja extraterrestres a passear por aí, estando os governos dos vários países a esconder todos os registos desses passeios.

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