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A Sacarina

A sacarina foi primeiro adoçante artificial comercialmente disponível, sendo cerca de 300 a 400 vezes mais doce que o açúcar, e sem valor calórico. A descoberta da sacarina, no final do século XIX, constitui um exemplo curioso do papel da serendipidade nas descobertas em química.

Em 1877, um químico russo chamado Constantin Fahlberg foi contratado por uma empresa de importação de açúcar em Baltimore (EUA) para analisar um carregamento de açúcar apreendido pelo governo, que questionava sua pureza. A empresa contratou igualmente Ira Remsen, um prestigiado professor de química e investigador na famosa Universidade Johns Hopkins, pedindo-lhe que disponibilizasse um laboratório para a realização dos testes de Fahlberg. Depois de concluir as suas análises e enquanto esperava para testemunhar no julgamento, Fahlberg obteve a permissão de Remsen para usar o laboratório para as suas próprias pesquisas. Achou o laboratório um lugar muito agradável para trabalhar e, no ano seguinte, foi autorizado a passar a participar na pesquisa aí desenvolvida, tendo-lhe sido concedida uma bolsa.

Constantin Fahlberg trabalhava com compostos químicos derivados de alcatrão de hulha (um subproduto obtido a partir do carvão mineral). Certa noite, após um dia de trabalho no laboratório, já em casa, sentou-se para jantar. Ao comer o pão reparou que este tinha um sabor fortemente adocicado. Rapidamente verificou que o sabor provinha das suas próprias mãos, que não tinha lavado, e pensou que o sabor devia ser originado por algum composto com que tinha trabalhado nesse dia. Voltou nessa mesma noite ao laboratório, onde provou o material e os produtos que tinha sobre a bancada do (algo impensável hoje em dia!), acabando por descobrir que o sabor doce vinha de um composto que se tinha formado num copo de vidro no qual o ácido o-sulfobenzóico tinha reagido com cloreto de fósforo e amónia. Embora Falhberg já tivesse sintetizado o composto por outro método, nunca tinha tido motivos para o provar. O acaso forneceu-lhe a primeira alternativa comercialmente viável à cana-de-açúcar.

Em fevereiro de 1879, Remsen e Fahlberg publicaram um artigo conjunto descrevendo dois métodos de preparação da sacarina e, embora tenham notado especificamente o seu sabor -“ainda mais doce que o açúcar de cana”- nenhum deles pareceu interessado no seu potencial comercial.

Cinco anos depois, Fahlberg deixou o laboratório de Remsen e, sem notificar o seu codescobridor, patenteou o método de produção do adoçante a que deu o nome de sacarina, alegando ser o único descobridor da “sacarina de Fahlberg”, o que o viria a torná-lo milionário. Remsen, que pretendia mais reconhecimento científico do que dinheiro, imediatamente protestou na comunidade química.

Com seu novo método de produção patenteado, Fahlberg estabeleceu-se na cidade de Nova York, onde produzia 5 quilos de sacarina por dia para uso como aditivo em bebidas. Oferecido em forma de pílula e pó, a popularidade da sacarina cresceu rapidamente.

O uso da sacarina como adoçante artificial tornou-se generalizado durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) devido à escassez mundial de açúcar. Na década de 1960, começou a ser promovido para a perda de peso, senho hoje em dia largamente utilizada como substituto do açúcar em refrigerantes de baixo valor calórico, mas também em alimentos, produtos farmacêuticos e em rações para gado.

Curiosidade

No início do séc. XX a segurança da sacarina tornou-se controversa. Em 1906, o químico-chefe do Departamento de Agricultura dos EUA chegou a propor a proibição do uso da sacarina, mas o então presidente Theodore Roosevelt, que tomava sacarina para perder peso, diz-se que terá contestado: “Qualquer um que diga que a sacarina é prejudicial à saúde é um idiota”. Atualmente, não há riscos identificados para os seres humanos.

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