O mundo da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, as chamadas STEM, tem muito que se lhe diga e são várias as ideias pré-concebidas que existem. Para desmistificar alguns temas, o Jornal Referência lança agora, em parceria com o projeto “STEM Online”, a rubrica “STEM em Foco”.
Lembram-se do meteoro que foi observado recentemente no céu, em Portugal? Afinal, qual é a diferença entre um meteoro e um meteorito?
A dúvida não é de agora, como explica o astrónomo Miguel Gonçalves.
“Sabemos que orbitam à volta do Sol os planetas, luas e todo um conjunto de outros objetos de vários tamanhos, que vão desde grãos de areia até autênticas rochas com cerca de 500 mil quilómetros de diâmetro, que são os asteroides, e os seus primos gelados, os cometas”, começou por explicar o também formador e comunicador de Ciência.
“Os asteroides orbitam ali, sobretudo, na zona entre Marte e Júpiter, na cintura principal de asteroides e os cometas gelados, geralmente, têm como residência para lá de Neptuno. Há fragmentos também, quer de asteroides, quer de cometas que orbitam entre os planetas, andam a vaguear”, continuou Miguel Gonçalves.
Quando esses pedaços entram, por exemplo, na atmosfera da Terra, “aquecem muito, mesmo muito” e, por isso, ficam “muito brilhantes”. E é isso que é visível no céu e que se designa por meteoro.
Na maior parte dos casos, esses fragmentos são desgastados pela atmosfera ou até mesmo eliminados. Quando tal não acontece e caem na superfície da Terra, seja na parte marítima ou na parte terrestre, recebem o nome de meteorito.
No caso do meteoro que foi visível nos céus de Portugal e de Espanha, em maio, “ter-se-á desintegrado a cerca de 50 quilómetros de altitude no Oceano Atlântico”. Tratou-se de “um pedaço de um cometa que ainda nem sequer estava registado”.
“Todos os dias, há cerca de 60 a 100 toneladas de material cósmico, que tanto pode ser poeira como pequenos meteoros, a entrar na nossa atmosfera. Portanto, os meteoros são frequentes, o que não é frequente é com esta intensidade tão brilhante como aquilo que nós vimos”, afirmou Miguel Gonçalves a propósito da frequência.
Desde o início do ano já foram vários os fenómenos observados e noticiados em Portugal. Miguel Gonçalves acredita que, uma vez que este evento foi “muito mediático” e levou “as pessoas, se calhar, também a olharem com mais frequência para o céu noturno”, a probabilidade de verem meteoros é “mais elevada”.
Mas a queda de um meteorito pode ser perigosa?
Ao longo da história da Humanidade, segundo garante Miguel Gonçalves, não há “nenhuma vítima mortal associada à queda de um meteorito”, por isso, a probabilidade de as pessoas serem atingidas por um meteorito é “extraordinariamente baixa”.
Contudo, também é necessário sublinhar que não é possível “prever quando é que vai haver uma queda”. No total, foram recolhidos até hoje cerca de oito meteoritos em Portugal, sendo que a última queda com registo e recolha aconteceu em 1988, em Ourique. A maior parte desses materiais recolhidos estão “em museus de Ciência e museus de História Natural, quer em Lisboa, quer no Porto, quer em Coimbra, e alguns estão em coleções privadas”.
No caso de presenciar algum fenómeno do género, Miguel Gonçalves aconselhou a contactar as autoridades competentes, como a GNR, PSP e Proteção Civil, e “nunca criar uma espécie de alvoroço mediático e popular à volta destas coisas”.
Para Miguel Gonçalves, um meteorito recolhido é algo “raro” e “um autêntico tesouro científico”, uma vez que são “os registos rochosos mais antigos do sistema solar” e, por isso, “uma caixa negra sobre aquilo que eram as condições iniciais da nebulosa que deu origem aos planetas, que deu origem ao Sol”.
Acompanhem no segundo episódio da rubrica a continuação desta entrevista, que responderá à questão se uma tempestade solar pode ameaçar o funcionamento da internet.