STEM EM FOCO: O que é uma supertempestade solar e como pode ameaçar o funcionamento da Internet
No segundo episódio do “STEM em Foco”, uma parceria entre o Jornal Referência e o “STEM Online”, o tema continua a ser o Espaço, mas, desta vez, acerca da atividade solar.
Antes de explicar em que consiste uma supertempestade solar, é importante falar sobre outra observação rara em Portugal: uma aurora boreal.
Na origem deste fenómeno está uma tempestade eletromagnética de grande intensidade, ligada a um período cíclico de grande atividade solar que atingiu o seu pico este ano. “Aconteceu isso porque o Sol está muito ativo e teve, na altura, uma mancha solar muito ativa que emanou muitos flares [erupções] e muitas explosões solares”, indicou o comunicador de Ciência Miguel Gonçalves.
“Esse tipo de material solar entra no campo magnético da Terra, acumula-se, digamos assim, junto dos solos e, portanto, cria aquelas auroras que nós vemos, sobretudo, muito frequentes nos países mais a Norte e a Sul. Mas foi tão intensa essa explosão em particular que chegou mesmo a haver registos cá em Portugal”, adiantou ainda.
O que significa uma “grande atividade solar”?
Miguel Gonçalves explicou que, atualmente, atravessa-se “um período de pico solar”, o que significa que o Sol está a chegar ao fim de um dos seus ciclos de atividade de 12 anos.
Contudo, não quer dizer que haja “mais exposição solar” a incidir sobre as pessoas, mas é possível que existam “mais explosões violentas do Sol”, que podem levar a acontecerem mais auroras boreais.
Uma supertempestade solar pode ser uma ameaça ao funcionamento da Internet?
Um grupo de cientistas alertou, há alguns meses, para a possibilidade de a qualidade do funcionamento da Internet poder alterar-se devido a este pico de atividade solar, que interfere no campo magnético da Terra.
Apesar de ser impossível de prever, conforme relatou Miguel Gonçalves, um caso com alta gravidade apenas aconteceu em 1859, foi o chamado evento Carrington: “Foi uma explosão muito poderosa do Sol e, nessa altura, quer na Europa, quer nos Estados Unidos, estavam-se a dar os primeiros passos na instalação do serviço de telégrafos”.
“Nós temos registos de sistemas de telégrafos, portanto, na superfície da Terra, que foram afetados diretamente com essa explosão, ou seja, houve mesmo postes, houve fios que foram queimados devido a essa explosão que se deu no Sol. Nós não tivemos outro evento assim tão poderoso na nossa história”, assegurou.
Atualmente, há “cada vez mais satélites de comunicação de Internet e outros” a serem colocados nas órbitas baixas da Terra: “Esse tipo de comunicações pode ficar afetado com a atividade solar porque, numa altura de pico solar, a nossa magnetosfera da Terra e também a atmosfera do nosso planeta reagem a essa maior atividade do Sol”. No entanto, o impacto não deverá ser sentido, já que existem “centenas e centenas de satélites”.
Mesmo não sendo possível fazer previsões concretas, Miguel Gonçalves aludiu que, à medida que se aproxima o pico energético, “há uma probabilidade maior” de haver injeções de massa coronal, que “são pedaços da superfície do Sol que são ejetados pelo Sol nestas explosões e que podem chegar à Terra”.
“Geralmente, demoram dois, três dias a chegar à Terra. Eles não viajam à velocidade da luz, nessa injeção de massa do Sol, mas esses, de facto, são os mais preocupantes. Mas não há maneira de prever isso, só sabemos que quanto mais energético estiver o Sol, quanto mais magnético estiver o Sol, maior a probabilidade de termos esse tipo de efeitos”, explicou Miguel Gonçalves.